Cuidado com as Minimatrix

Já fiz um post aqui sobre a Matrix e todas as implicações dela.
O relato não é novo pois muita gente que visita a blogosfera financeira sabe muito bem o que é a matrix e como devemos proceder em relação à ela. E como eu nunca vi nada falando sobre as diversas minimatrix da nossa sociedade gostaria de introduzir o tema.
E o que seriam as minimatrix? Como indentificá-las?
Bem uma minimatrix eu defino como sendo um sistema fechado de valores, crenças, comportamentos, atitudes, conceitos, termos específicos, visões de mundo e forma como você vai interagir na matrix sendo um minimatrixiano. Muitas pessoas acham que estão vivendo uma vida alternativa fora da matrix, justamente entrando numa minimatrix e fechando os olhos para o mundo real.
Vejam que entrar numa minimatrix e viver submerso dela é até saudável por um tempo, e tem seu valor para uma dada época na vida, mas depois as coisas tem que ser questionadas e a ligação com a matrix principal fica muito conturbada. O problema da grande matrix não é ela existir, é você ser absorvido plenamente por ela e não se dar conta, o que também acontece com as mini, mas você acha que não.
Vamos aos exemplos:
Primeiro, exemplo real: Eu tenho um amigo que é de família classe média alta, que entrou num grupo religioso cristão extremo e hoje em dia vive recluso numa comunidade plantando e recolhendo dinheiro nos sinais de trânsito para ajudar a se manter. Eles não trabalham fora, não tem conta em banco, nem carro, nem coisas para consumir. Ele casou com uma menina de lá e estão criando o filho lá dentro. O pai dele é dono de cursinho e moravam num dos melhores bairros da minha cidade. Ou seja, ele foi absorvido por uma minimatrix monstra, sim ele está feliz (não tem celular), mas vamos ver onde isso vai dar ou se vai findar sendo bom mesmo. Pessoalmente achei um desperdício (ele era um bom advogado que até ganhava bem).
Tenho outro amigo que virou escoteiro e entrou de cabeça nesse negócio, entrou tanto que perdi o amigo, ele só fazia chamar pra isso, era a Herbalife da minha infância ser escoteiro (por falar, nisso existe minimatrix mais chata do que a Herbalife?)
Outros exemplos genéricos:
Adolescentes costumavam se dividir em castas (na minha época), tinha o pessoal do surf, o pessoal do rock, o pessoal mais nerd, os atletas, os maus alunos, os marombeiros-playboys e por aí ia, mas a coisa era mais ou menos saudável do ponto de vista social para cada um, mas veja que o grau de dedicação ao seu grupo da mini pode começar a lhe afetar se lhe privar de viver outras coisas, como por exemplo, pessoal do surf, se vest surf, só fala em surf, passa finais de semana surfando, mata aula pra ir surfar… pessoal do rock, só fala em banda, só quer ensaiar, só veste preto, só fala em música, perde muito tempo em casa escutando música, baixando música, fica horas e horas na internet pesquisando bandas, lendo, discutindo sobre letras, sobre os componentes das bandas, baixando fotos de bandas… os marombeiros playboys só falam em academias, suplementos, perdem horas e horas em academias, e formam um conjunto de valores próprios sobre quem tá dentro e tá de fora. As minimatrix não são apenas grupinho de uma coisa ou outra, elas podem definir o futuro da sua vida.
Vejam o caso dos hippies, são uma puta minimatrix, valores, idéias, conceitos, visões de mundo, muito peculiares, pessoas que passam a vida morando numa kombi, se drogando transando livremente entre si, achando que são livres de alguma coisa, falta de dinheiro eterna e por aí vai, liberdade total e plena que seria o ideal? Nunca. Não se deve fugir da matrix para viver em uma minimatrix, pelo menos é o que eu acho.
Quando eu tinha uns 14 anos um amigo da rua me deu emprestado alguns livros de PNL para ler (Programação neurolinguística), eu achei muito útil e interessante, e li todos os livros, depois comprei mais alguns e continuei lendo, não tinha muita internet na época então o jeito era papel mesmo, juntamos um grupo de amigos e cada um comprava um livro e a gente trocava. O interessante é que alguns já eram bem velhos da década de 80, coisas bem roots mesmo, o principal autor se chamava Richard Bandler, e um dos melhores dele que eu li se chamava “Sapos em Príncipes”. A programação neurolinguística pode ser considerada como um ramo da psicologia.
Quando você começa a ler isso você passa a perceber todo o mundo e as pessoas baseado nisso, é uma verdadeira minimatrix, até o dia que você se liberta novamente, é um conteúdo interessante, mas como tudo que é americano, eles fazem cursos, chapters, certificações, finais de semana de imersão, encontros nacionais, aí sim, já virou religião. Depois de aprender o que eu queria e atingir um platô relativo eu parei de ler e me senti aliviado.
Da mesma forma também vejo que até coisas mais sérias como a Psiquiatria e a Psicologia tem mundos próprios e minimatrixianos. Você tem que entrar e sair pra ver, quem entra e fica nunca sai. Muita coisa é minimatrix, eu poderia citar de cara logo todas as pseudociências como astrologia, homeopatia, cartomancia, xamanismo, psicanálise e poderia até citar as religiões em geral como pseudociência assim como fez Karl Popper e tendo a concordar com ele (embora aqui o ativismo e o embate religioso possam querer refutar veementemente por questões de dogma), mas tudo bem, não tenho nada contra pessoas religiosas, defendo a liberdade do ser humano, se você quiser se enclausurar numa comunidade cristã ou outra fechada não sou eu que vou me opor ou falar mal, questão de julgamento moral não é para mim.
Uma coisa engraçada que eu lia no blog do pobretão era o pessoal dizendo que ele enfrentava a Matrix mas acabou criando outra matrix, foi esse comentário que me fez pensar nesse post. E realmente era uma minimatrix as coisas que ali se falavam. Nem sempre tão saudável, mas pelo menos eu ria um pouco ao ler os comentários do pessoal.
como
Enfim, eu poderia dizer que nunca fui absorvido 100% por um grupo, por uma teoria, por um sistema fechado de valores, e acho que isso foi muito importante na minha formação, você pode viver as coisas sem participar tão profundamente a ponto de se comprometer, quanto mais você se compromete mais você se limita e mais a sua liberdade fica ameaçada.
O que não falta por aí no mundo é gente doida criando clubinho e arregimentando sócios, irmãos, parceiros, clientes ou seja lá como eles se chamam. E quando você estiver metido numa dessas e perceber que isso está atrapalhando o andamento normal da sua vida, já sabe né? Que é hora de cair fora? Na dúvida não se comprometa.
É muito mais difícil sair de um compromisso do que simplesmente decidir não entrar nele. E hábito nos prende e nos lança amarras perigosas em um lugar (como casar com uma mulher de uma comunidade dessas, vide o exemplo do meu amigo lá em cima).
Pelo menos uma minimatrix que o pessoal aqui vive é a da Liberdade Financeira. Tem que ter o cuidado pra não virar sua religião também e moldar 100% da sua vida nisso. Isso é caminho longo, é maratona, não precisa correr rápido demais nem ser radical e nesse caso eu também preciso me controlar.
Já começo a pensar no próximo aporte vinte dias antes de receber o próximo pagamento e às vezes reconheço que isso não é saudável. Na vida os excessos são prejudiciais como já dizia Buda e meu avô analfabeto reforçava “Tudo demais, é muito”. Viajar às vezes, ler outras coisas, ver séries, tirar um tempo livre pra não fazer nada, enfim viver normalmente e não pensar nisso todo dia são coisas a se fazer, embora não seja fácil.
Tenho um amigo que viaja muito, muito mesmo, e sempre me critica por não viajar com ele ou igual a ele. São valores diferentes, um acha que aproveitar a vida é viajar, o outro acha que é adiar um pouco isso e aportar mais, no fundo queremos a mesma coisa por vias diferentes. Já acho que ele viaja DEMAIS, e isso também pode ser uma minimatrix, uma fuga de alguma coisa, não sei dizer ao certo.
Quem assistiu o seriado LOST sabe disso, todos que estava ali no avião estavam um pouco perdidos nas suas vidas pessoais, que foram dissecadas ao longo do seriado, brigas familiares, problemas psiquiátricos, problemas com drogas, com a polícia, com a esposa, com a profissão e por aí vai. Você não vai resolver sua vida entrando na minimatrix das viagens. Viagens desnecessárias apenas para fugir da sua realidade não vão ajudar tanto e ainda lhe fazer gastar muito (fiz um post exclusivo sobre isso lá atrás).
De certa forma você precisa de foco em alguns momentos da sua vida como estudar pra um concurso, uma prova, arrumar um emprego, emigrar, estudar inglês,  ou um vestibular e entrar em um plano diferente, dose, tenha cuidado, não deixe o barco afundar por causa disso, e nem muito menos para atingir a LF. É preciso viver.
Tem que ter cuidado em bater de frente com a Matrix e não mergulhar em uma minimatrix, NENHUMA. Conserve a sua independência, a sua capacidade de pensar, de progredir, de repensar o mundo à sua maneira sempre que quiser, de mudar seus conceitos, de entrar e sair de lugares de maneira limpa e sem dever nada a ninguém, não se comprometa tanto a ponto de se consumir e consumir horas importantíssimas na sua vida.
Dedique-se primeiramente à você ao seu crescimento, à sua causa própria, um dia quando você estiver melhor e mais livre, poderá contribuir infinitamente mais com algum projeto que queria, voluntariamente deixar a sua marca e o seu legado, ademais fora isso você vai ser apenas gado e massa de manobra pros outros. Conserve-se.
Grande abraço,
Frugal.

Comentários

  1. Texto fenomenal, tanto esse quanto o original da Matrix. Meus parabéns.

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  2. Muito bom o texto. Me vejo exatamente nesse dilema de não ser sugado para o universo de investimento e liberdade financeira. Chego do trabalho e vou direto ver o que aconteceu, as noticias e tudo mais... As vezes só precisaria ver uma série no sofá. Aproveitar um pouco a vida, relaxar, por mais difícil que isso seja.

    Grande abraço.

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